19 novembro 2005

Emoção e muita incerteza no último dia da Lear

É com muita tristeza que vejo uma empresa multinacional, situada em Fontarcada, Póvoa de Lanhoso, a encerrar completamente a sua actividade, colocando 800 cidadãos no desemprego. Mais 800 para o fundo de desemprego.
Durante décadas o governo impávido e sereno atribuí benefícios fiscais a este tipo de empresas e alguns anos depois, tendo extraído "resmas" de lucro deslocalizam-se para outro país.
É preciso actuação do governo, para que pelo menos as máquinas e equipamentos sejam, digamos "nacionalizados". Patrões vão, mas os equipamentos ficam, é o meu anseio.
Segue notícia do JN:
«José Araújo, de 45 anos, foi dos primeiros funcionários a chegar, com a Lear Corporation, e será um dos últimos a partir. Não esconde a emoção que sente por ver chegar o fim da empresa, instalada na Póvoa de Lanhoso há nove anos. "Fui eu que fui pôr as placas para indicar a Lear. E fui eu que as fui tirar hoje (ontem). Nessa altura, foi uma enorme alegria, mas agora é uma tristeza", afirma o povoense, deixando que as lágrimas quase lhe encham os olhos.
Ontem foi o fecho oficial da Lear, mas na empresa ainda se encontravam cerca de 20 pessoas, que, até ao dia 30, estão encarregues de desmontar as máquinas, recolher equipamentos, carregar os camiões e, por fim, varrer o chão que fica vazio do movimento de 800 operários, que, desde Julho, foram sendo dispensados por aquela multinacional norte-americana produtora de componentes para automóveis. Para ontem estava prevista a saída dos últimos 57 trabalhadores, mas a empresa antecipou a sua saída para quarta-feira. Já não havia nada para eles fazerem. Agora, o espaço em Fontarcada - um pavilhão com 200 metros de comprimento e 60 de largura - encontra-se quase vazio. "Quem saiu em Julho, ainda viu a fábrica com as máquinas. A nós custa mais, porque todos os dias vemos isto a morrer", conta José Loureiro, de 31 anos, de Braga, desde 2000 na empresa.
O mesmo sentimento é partilhado por Orlando Carvalho, de 34 anos, de Vieira do Minho, há oito anos na manutenção. "Preferia ter ido mais cedo, como os meus colegas, porque é triste ver a fábrica a ficar vazia. Isto foi bom. Aprendi muito com esta empresa, foi uma escola".
Além de partilharem ainda o local de trabalho, estes funcionários têm a mesma incerteza em relação ao futuro, mas não fazem parte do lote de cerca de 50 que, segundo o vice-secretário-geral do Sindicato Nacional da Indústria e Energia, Ângelo Pereira, "demonstraram aos delegados sindicais intenção de emigrar".
A Lear anunciou em Junho o fecho, por fases, até Novembro, e sai para a Roménia. Na sua maioria os trabalhadores estão satisfeitos com as indemnizações. "Até negociámos bem, mas o Governo devia ter mecanismos para poder ir buscar mais no caso das multinacionais. Instalam-se, são subsidiadas pelo Estado e depois encontram países, onde a mão-de-obra é mais barata, e deslocam-se facilmente. O Governo devia ter uma mão mais pesada, para obrigar as empresas a pensar duas vezes, antes de sair. Vê-la assim a ir é frustrante", remata Orlando Carvalho.»
Fonte: JN

1 comentário:

Anónimo disse...

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