05 novembro 2005

A greve da justiça

Dizia hoje o infeliz primeiro-ministro deste desgraçado país que os magistrados não têm razão para fazerem greve. Que estes reclamam privilégios que ele próprio não tem. Vindo dum político profissional, outra coisa não seria de esperar. Isto cai bem no povinho, convencido que os magistrados beneficiam efectivamente de quaisquer privilégios e que nutre um ódio de estimação a estes profissionais, uns porque já foram prestar contas à justiça, outros porque temem que chegue o seu dia.
O que o infeliz não diz é que os magistrados estudam mais de 20 anos para entrarem nesta carreira, que os salários, para quem exerce uma profissão com tanta responsabilidade e trabalho, são baixos, que um juiz não tem horários de trabalho, que há juízes com 6.000 processos distribuídos, que pelo menos nos primeiros anos de carreira são colocados onde calha, por vezes a centenas de quilómetros de casa, que o trabalho nos tribunais é tantos que os estagiários fazem o mesmo trabalho dos juízes do quadro, que a maioria das instalações não têm condições para servirem de latrinas quanto mais de tribunais, que a meio do ano os tribunais já não têm verbas para comprar esferográficas, que os sistemas informáticos são peças de museu, etc., etc..
O que o infeliz não disse, é que os magistrados, como acontece com os políticos quando deixam o governo, não são colocados em altos cargos das empresas publicas, tipo CGD ou BP, ou embaixadores na ONU ou presidentes da EU, etc. Também não disse que os magistrados não se reformam com 6 ou 12 anos de trabalho, como são reformados deputados, colocados no BP ou na CGD e por aí adiante. E isto sim, são privilégios de que os magistrados não usufruem.
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in Blog Desgovernos